The innovation blind spot: why we back the wrong ideas – and what to do about it

Ross Baird
BenBella Books, 2017, Dallas

Ana Luísa Silva

Trabalhou como gestora de projetos de saúde comunitária na Nigéria, em Moçambique e Madagáscar. Neste momento, trabalha com startups em inovação ambiental. Tem mestrado em Estudos do Desenvolvimento pela London School of Economics e é doutoranda na mesma área na Universidade de Lisboa. O seu interesse de investigação é a inovação na cooperação para o desenvolvimento, em particular no setor da saúde.

Ross Baird é um empreendedor american o que, em 2009, lançou a Village Capital, um fundo de investimento de impacto (impact investing) com uma particularidade: a selecção das startups para investimento inicial é feita pelas próprias startups, num modelo de seleção pelos pares inspirado no conceito de village bank, tradicionalmente usado nas microfinanças. Uma das razões que levou os fundadores da Village Capital a desenvolver esta metodologia foi a constatação das limitações do atual sistema de inovação, do ponto de vista do capital de risco. São essas mesmas limitações, a sua análise e proposta de reforma que estão na origem do livro The innovation blind spot: why we back the wrong ideas – and what to do about it.

Neste livro, Baird começa por constatar que os EUA, país tradicionalmente inovador e empreendedor, unido pela idea do American Dream, está a passar por uma crise de empreendedorismo. Esta crise é ilustrada pela criação de novas empresas, ao nível mais baixo dos últimos 30 anos, e pelo baixo retorno financeiro dos maiores fundos de investimento, sedeados nas cidades mais ricas do país. Por outro lado, o autor observa que atualmente o empreendedorismo e a inovação não acontecem nas áreas que mais contribuem para o bem comum.

Na sua análise das imperfeições do sistema de capital de risco nos EUA, Baird identifica três grandes ângulos mortos da inovação (innovation blind spots): a forma como as novas ideias são escolhidas, de onde vêm essas ideias e a razão porque recebem investimento. O sucesso de uma ideia depende portanto de três fatores: como é que ela encaixa na estrutura de investimento de um investidor, qual é a origem (geográfica e socio-económica) do empreendedor e que tipo de problema está a ser resolvido. Através de exemplos, o autor conclui que o sistema privilegia o investimento em produtos e soluções para o grupo mais rico da população, que é também onde se inserem os investidores tradicionais (os que decidem onde investir). Esta abordagem top-down leva à existência dos tais innovation blind spots e impede a diversificação das áreas de investimento.

O resto do livro dedica-se à exposição de soluções para estes problemas, mais uma vez através de exemplos de como empreendedores, investidores (como a Village Capital), fundações e agências governamentais estão a transformar o sistema. Para Baird, a mudança passa por combinar as noções de lucro e de valor social/ambiental e pelo investimento em eco-sistemas e não em ideias individuais. Uma abordagem que passa a ser bottom-up, apostando em eco-sistemas que geram soluções locais para problemas sociais e ambientais locais (em diferentes contextos geográficos, económicos e sociais), permitirá diversificar o investimento, ultrapassar as innovation blind spots e, ao mesmo tempo, contribuir para um retorno financeiro mais durável.

É preciso notar que o livro parte de dois pressupostos, identificados pelo autor logo no início: 1) que o leitor é uma pessoa que se preocupa com o bem comum; 2) que o leitor acredita no sistema capitalista. Estes são os pressupostos que dão origem ao conceito de impact investing: é possível ter lucro com negócios dedicados ao bem-estar social e à saúde do planeta. Este não é portanto um livro que pretende contribuir para repensar estruturalmente o sistema capitalista, mas sim contribuir para um capitalismo mais preocupado com o bem-estar social e ambiental.

Quer se esteja ou não de acordo com esta perspetiva, a entrada dos fundos de investimento na inovação social e na cooperação para o desenvolvimento é hoje uma realidade. Os tradicionais financiadores da cooperação estão a diversificar as suas metodologias de financiamento, usando estratégias de capital de risco e procurando captar investimento privado. Um exemplo deste fenómeno é precisamente a parceria entre a Village Capital e o U.S. Global Development Lab (o centro de inovação da USAID, Agência para o Desenvolvimento dos EUA), que em 2014 contribuiu com 2,6 milhões de dólares americanos para o funcionamento do fundo, no âmbito de uma iniciativa com o objectivo de identificar novos modelos para apoiar jovens empresas inovadoras nos países em desenvolvimento. Esta iniciativa conta neste momento com mais de 40 parcerias semelhantes.

​No contexto atual, The innovation blind spot é um livro para refletir sobre estratégias de inovação, o crescimento do impact investing, a sua contribuição para a inovação social e as motivações dos investidores que estão a transformar o capital de risco.